Uma área pouco maior do que o estado de Pernambuco, cercada por águas e com a única fronteira terrestre considerada a mais militarizada e com risco eminente de guerra. É assim que poderíamos definir a Coreia do Sul, não fosse sua enorme influência na economia e na cultura oriental e ocidental. Como um país que já foi uma colônia, viveu um regime militar e que já teve um dos piores PIBs mundiais pode se tornar uma potência mundial tão influente?
A verdade é que a Coréia do Sul pode ser considerada um verdadeiro case de sucesso de branding nacional. Com um limitado mercado consumidor interno, o tigre asiático seguiu à risca a estratégia de outras nações ocidentais, expandindo sua influência através do entretenimento e, hoje, está presente nos lares do mundo todo, seja através dos serviços de streaming, da culinária ou da forma de cuidar da saúde.
Nessa Nós da Cordão, fomos atrás de explicações do fenômeno Coréia do Sul. Como estrategistas, nos interessa entender como as suas influências e criações estão dominando nossas conversas e nosso lazer, e o que as marcas e empresas podem aproveitar dessa nova onda sul-coreana mundial.
Para ler com calma
Links bons demais para serem lidos rapidamente.
Pátria Inovadora
Não tem como falar da Coréia do Sul sem entender o papel do estado na sua reputação: é que lá, a inovação é um projeto estadual, como política pública mesmo, e, não à toa, o país voltou a assumir o topo das nações mais inovadoras do mundo em 2021, segundo o site Bloomberg.
O índice analisa dezenas de critérios que vão de gastos com pesquisa e desenvolvimento até capacidade de fabricação e concentração de empresas públicas de alta tecnologia: medido há nove anos, em sete a Coréia ficou no topo, por conta do seu alto investimento em patentes e pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Para quem deseja se aprofundar no assunto, o professor de Economia da Universidade Federal da Bahia e Professor Visitante da Seoul National University (SNU), Uallace Moraes, conta um pouco nesse vídeo para a Casa do Saber sobre o que torna a Coréia do Sul uma pátria inovadora.
Ah, e Nessa thread, a cineasta Marina Rodrigues também nos dá uma verdadeira aula de como investimentos públicos e privados de longo prazo dão resultados para criar blockbusters.
Entretenimento ou crítica social?
As produções sul-coreanas mais famosas dos últimos tempos - de Parasita a Round 6 - tem algo em comum: suas críticas aos modelos econômicos e sociais vigentes. E nada é por acaso: por muito tempo, o país viveu uma ditadura e fortes sanções protecionistas que censuravam as programações, e parece ter influenciado as histórias de maior sucesso. Quer um exemplo? Este texto traça um interessante paralelo de Round 6 com a falsa retórica de “escolha” e “resiliência”.
E são assuntos bastante pujantes para a geração Millennial que, agora, começa a perceber a fragilidade e os efeitos nocivos do sistema precarizado e workaholic que ela algum dia já admirou, como conta este texto bastante seminal do tema.
Fica, vai ter bento cake!
Uma moda viral nos reels e tiktoks é os bento cakes, esses bolos-cartões que muita marca brasileira já aderiu, e que tem origem na culinária sul-coreana que você pode conhecer mais aqui. A ideia é celebrar pequenas conquistas com bolos decorados com frases inusitadas: vale para quando ganhamos uma promoção, nos livramos de um problema ou finalmente pagamos a última prestação. O importante é comemorar. E postar ;)
K-pop: O K é do quê?
Mesmo que você não escute, é quase impossível não ouvir falar do k-pop, o estilo musical nascido na Coréia do Sul. Formado pros grupos de jovens - também conhecido como Idols - eles literalmente dominam o mundo - de discurso para a UNICEF, série documental da Netflix, e também conferências de encontro de fãs ao redor do mundo - mas será que representam a cultura popular do seu país?
Este artigo traz uma análise histórica da música sul-coreana, e critica a associação com a cultura coreana ao estilo musical, muito por conta das influências não só orientais como ocidentais das suas letras - por exemplo, o k-pop é cantado metade em coreano e metade em inglês - bem como dos padrões de beleza - o autor nos faz notar como as influências estéticas ocidentais foram reproduzidas no padrão sul-coreano pelo k-pop.
Go-to-community na prática
O K-pop tem um grande poder de criar comunidades, muitas delas bastante engajadas politica e socialmente, apesar dos contratos praticamente impedirem seus integrantes de manifestarem ou se envolverem com temas polêmicos. Eles se tornam verdadeiras figuras idolatradas, não só pelos seus fãs, mas até mesmo usados como política externa de relações internacionais.
Por isso, casos como da emboscada ao comício de Donald Trump organizada via TikTok e da arrecadação de fundos para os atingidos das queimadas do Pantanal, mostram o poder dessas comunidades, principalmente entre a Geração Z.
O anti-fandom e as comunidades de ódio
Todo mundo tem um grupo de WhatsApp que destila aquele veneno. Mas, sabia que existem verdadeiras comunidades que unem as pessoas pela repulsa que nutrem por algumas celebridades? Nesse texto muito bacana, a autora analisa uma dessas comunidades e descobre muito mais semelhanças de fãs com haters do que a gente pode imaginar.
Olha esse dado
Números para impressionar no date ou na reunião de trabalho
17
de janeiro, mais precisamente hoje, é conhecido como o dia da desistência pela Strava, uma rede social para atletas. As promessas de fim de ano mexem com as pessoas, e a empresa minou esforços para encoraja-las a permanecerem usando o seu serviço mesmo depois desta data, como contam aqui.
-16%
aproximadamente o valor perdido das ações da empresa Peloton, de equipamentos esportivos, após ter sua imagem associada com a morte de um personagem na continuação de Sex And The City, And Just Like That. Se não quiser saber mais spoiler não recomendamos clicar aqui.
39%
dos casais heterossexuais se conhecem on-line, se tornando o principal meio, conforme o site Bedbible.com que analisaram casais de 1995 a 2017. Para se ter uma noção, o formato virtual saltou de míseros 2% para os quase 40%.
203.000.000
downloads no app da Shopee em 2021, passando na frente da Amazon e da Wish, primeiro e segundo lugares de 2020, respectivamente, e se tornando o aplicativo de compras mais baixado do ano passado. A SHEIN, outra queridinha deste grupo, ficou em segundo lugar, conforme dados da WARC.
6%
aumento de reclamações nas avaliações de velas “sem cheiro” na Amazon, em novembro passado, podem estar associadas com o boom de casos da nova variante do coronavírus, a Ômicron. Ao menos foi isso que repercutiu no Twitter e personalidade como @oatila chamaram atenção.
R$52,4 B
novo recorde de transferências via pix em um dia no Brasil, marco registrado na primeira sexta-feira do ano, 7 de janeiro. O montante superou os R$50,3 bilhões de 10 de dezembro de 2021, confirmando a nova transação queridinha dos brasileiros.
Olha esse termo
Adoramos um neologismo. Já conhecia esse?
FANCHANT
Ainda na pegada do k-pop, chama muito a atenção o jeito que os fãs interagem durante as performances ao vivo dos seus idols. É que, diferente de outros locais do mundo, sobretudo no Brasil, que cantamos o mais alto possível em um show, os fãs de k-pop pronunciam algumas frases em coro, de forma complementar às músicas.
Esses trechos se chamam fanchant (união das palavras inglesas fan = fã e chant = cantoria), palavras que podem ser desde frases ou os nomes dos ídolos, pronunciadas como uma forma de carinho dos fãs para o seu grupo favorito. Apesar de cada grupo de fãs ser responsável pela criação do seu fanchant, muitos conjuntos lançam vídeos no Youtube ensinando.
Além das coreografias e o show visual, o efeito ao vivo do fanchant é digno de um espetáculo muito bem orquestrado, como tudo no k-pop. Obcecados pela perfeição e pela organização, o fanchant também pode representar esse cuidado com a formalidade, traço cultural típico sul-coreano.
Olha essa dica
Para quem quiser se aprofundar na cultura sul-coreana, separamos alguns links
Dorama: o oriente também tem as suas novelas , muito famosas no Japão, mas também tem suas versões na Coréia do Sul, Taiwan e China. O nome vem da forma que os orientais falam drama, ou seja, dorama. Round 6, por exemplo, é um dorama ;) Aqui uma lista caprichada, todos disponíveis na Netflix.
Música: não sabe por onde começar? Comece pelos mais populares do momento: BTS, Blackpink e Twice. Uma dica, não deixe de ver os clipes: eles realmente se puxam nas produções e as coreografias são sempre impecáveis.
Documentário: Quer entender um pouco mais? Explicando é uma série da Netflix pra quem gosta de entender um assunto em poucos minutos. O episódio K-pop da primeira temporada faz um bom apanhado histórico e social, contando desde a sua origem e os primeiros idols.
Canal do Youtube: O canal da Miuuky que sempre trás conteúdos dos principais grupos e polêmicas. O mais legal é que ela, por ser muito fã, traz os conteúdos de uma forma didática e imersiva.
Podcasts: Pra quem deseja uma análise mais antropológica, a dica é o episódio Hype Oriental do CAOSCast. Os participantes mostram quão presente são as influências orientais nas nossas rotinas. Destaque para quando contam como foi participar de um show de k-pop na Coréia do Sul.