Necessidade e desejo são uma das primeiras lições de cursos de marketing. A primeira lida com o que é indispensável para a sobrevivência, enquanto a segunda é sobre o que queremos, e é aquilo que os profissionais se voltam para tornar suas ofertas únicas e mais desejadas.
A juventude eterna pode ser o desejo, mas a necessidade de encararmos o avanço da idade já não pode mais se esconder debaixo do tapete. Ou nem ser colocada em cima dele, sentado numa cadeira de balanço enquanto tricota ou assiste uma televisão.
A expectativa de vida, o avanço tecnológico e as possibilidades de mercado mostram que essa enorme parcela populacional quer continuar aproveitando a vida e sendo surpreendida bem mais do que imaginamos.
Essa Nós da Cordão traz muitas provocações para pensarmos juntos em como ajudar consumidores a se enxergarem e terem suas necessidades e desejos sendo atendidos. Sem precisar projetar algo que não são ou não querem mais ser: velhos.
Desaposentadoria?
A preferência por uma vida de descanso depois de anos de trabalho parece não estar mais nos planos da maioria das pessoas. Motivos menos romantizados, como crise econômica e sanitária, e até por escolha pessoal, tem levado uma boa parcela da população a continuar na labuta mesmo depois de ter seu direito garantido de “pendurar as chuteiras”, como conta essa reportagem.
E vale celebrar cases como o de Mark Denton que resolveu fazer algo ainda mais inusitado: se tornar estagiário aos 65 anos. O diretor criativo sentiu que estava muito engessado na posição que assumia e decidiu embarcar numa aventura de um mês em uma posição mais júnior em uma agência de publicidade britânica. Aqui conta um pouco dessa empreitada super empolgante.
Uma inteligência que vem com a idade
E se estão permanecendo no mercado por mais tempo, os mais velhos já podem exibir algumas exclusividades: segundo este estudo, existe um tipo de inteligência que só é adquirida com a idade, chamada de cristalizada. Ela permite que as pessoas façam associações mais complexas e de maneira mais ordenada, sem a impulsividade e amadorismo da inteligência fluída, característica das gerações mais jovens.
E já existe até programas educacionais, como a Modern Elder Academy, fundada por um conselheiro estratégico do Airbnb de 52 anos, que aposta no desenvolvimento da inteligência cristalizada para líderes com mais de 40 anos.
Cadê os 50+ na propaganda?
Nessa coluna na WARC, o autor clama por mais representatividade de pessoas na faixa dos 50+ anos na publicidade. Segundo ele, retratar apenas o público jovem é totalmente incoerente, já que os 50+ tem o potencial de crescimento econômico mais significativo - para além de 2050!
Um cuidado muito importante para as marcas que desejem dar esse passo é cuidar para não cair em dois clichês: do idoso frágil que precisa de ajuda ou da figura do superidoso que aos 70 consegue escalar o Everest. É preciso conhecer mais essa geração e explorar sua realidade cotidiana para transporta-la para as campanhas.
Protagonismo na telona e na telinha
As mulheres de mais de 40 anos sempre tiveram pouco protagonismo na tela, mas nos últimos anos esse estigma vem sendo vencido, como nos conta este artigo.
Se a desculpa antes era que essas personagens não era atrativas comercialmente, como explicar o sucesso de séries como Gracie and Frankie e Mare of Easttown, e de filmes como Nomadland e Gloria? Ou como justificar que no último Emmy mulheres de 45 anos levaram quase todos os prêmios nas categorias principais de atuação?
Mas a representatividade não pode parar por ai, e precisamos de mais histórias com protagonistas nesta mesma faixa etária fora do espectro branco e heterossexual, como bem conclui o texto.
É hora de parar de separar em gerações?
Por fim, fica a dúvida: as gerações são uma maneira ainda útil de entender alguma coisa? É o que este artigo - excelente, por favor, não deixem de lê-lo - fala sobre a segmentação mais usual e comercial de separar as pessoas em eras geracionais.
Uma das partes que achamos mais interessante é quando o autor analisa os resultados de um estudo sobre a Geração Z, mostrando como vários “axiomas geracionais” podem ser facilmente contestados com outros dados.
Outro ponto interessante é quando se fala que as gerações seriam apenas um dos fatores que podem nos ajudam a entender a mudança de comportamento e atitudes de um grupo: eventos históricos e fatores do ciclo de vida - como raça, classe, renda, etc. - devem fazer parte destas interpretações sociais.
71%
dos boomers (55-75 anos) se sentem “velhos” quando alguma incapacidade física ou mental os acometem. O percentual é maior do que quando se aposentam (24%) ou quando se tornam avós (15%).
49%
das pessoas com mais de 55 anos dizem que evitam ativamente marcas que ignoram sua faixa etária. Enquanto isso, só 5% da publicidade nos EUA é destinada a pessoas com mais de 50 anos e 12% dos anúncios do Reino Unido apresentam alguém com mais de 50 anos em um papel de liderança.
103
anos, idade que Lygia Fagundes Telles omitiu e que a reportagem da Folha descobriu após seu falecimento no mês passado. Ela dizia ter 98 anos, 5 anos de diferença e de mistério que Vera Laconelli discute na sua coluna sobre o preconceito e o peso da idade nas mulheres.
20
um holandês entrou na justiça pedindo para reduzir sua idade de 69 para 49 anos. Ele apresentou até um laudo médico que atestava que ele tinha um “corpo de 45 anos”. Mas, “infelizmente”, não foi dessa vez: o processo só serviu para virar notícia e postagem no Linkedin, já que foi negado.
39,1%
aumento de mulheres que se tornaram mães entre 30 e 39 anos, no intervalo de 2010 a 2019, no estado de São Paulo. Enquanto isso, caiu pela metade (10,4%) das que se tornaram mães com menos de 20 anos.
57%
dos homens gays norte-americanos acima de 45 anos estão solteiros e 46% vivem sozinhos. Os dados sobre esta parcela da sociedade ainda são muito pouco registrados, um problema grave de invisibilidade social que precisa de atenção não só de marcas, como de políticas públicas.
etarismo ou idadismo
Embora os profissionais mais velhos acumulem muita experiência, ainda sofrem grande discriminação baseada na idade, o que é chamado de etarismo ou idadismo. No mercado de trabalho é sabido que esse preconceito inicia já aos 40 anos! Mas, se você trabalha com propaganda, um mercado que sempre glamurizou a juventude, é muito possível que isso comece ainda antes. Já ouviu alguém ser chamado de “dinossauro da propaganda"? Então, isso é etarismo.
Aliás, já falamos aqui de um novo estudo da Universidade de Stanford que sugere que as mesmas pessoas que apóiam a igualdade de gênero e raça no trabalho podem ser mais propensas a discriminar com base na idade. Estes e outros dados sobre etarismo no trabalho podem ser lidos neste artigo da Forbes.
Population Pyramid: esta ferramenta é pra lá de útil! Ela permite simular a pirâmide populacional de qualquer país em qualquer ano desejado (passado ou futuro!).
IBGE População: semelhante a ferramenta acima, mas 100% brasileira. Nela, é possível também comparar a população dos estados e ver mais dados como expectativa de vida, natalidade, etc.
Novidade exclusiva do aniversário da Cordão
No último dia 03 de maio foi o aniversário da Cordão - e da nossa newsletter - e, além das comemorações no nosso feed, também teve reportagem super bacana no Coletiva. A Dani Lazzarotto, nossa fundadora e diretora de estratégia, conta um pouco da nossa trajetória e uma novidade que só quem ler até o final vai saber do que se trata ;)
Share Talks com Painel da Cordão
Já falamos na nossa última news, mas vale o reforço: todo mundo convidado para acompanhar o Share Talks, no próximo 28 de maio. Além da volta ao modelo presencial, estaremos moderando um painel com Graziela Brum da Farm e Daniela Bonesi da Panvel. Quem estiver em Porto Alegre, não perde!
Queremos conhecer você!
Por isso, criamos esse pequeno questionário para entender um pouco mais do perfil dos nossos leitores e leitoras da news, suas preferências e o que mais vocês pensam sobre a Nós da Cordão. Não poupem palavras, vamos ler tudo com o mesmo carinho que vocês leem nossos e-mails ;)