Saudade do que não vivemos | #04
A nostalgia entra no mundo das marcas de um jeito bem diferente.
Quem nunca buscou conforto no passado quando o presente parecia insuportável?
Com a pandemia, o passado se tornou até uma substância alucinógena - de dar inveja ao chá da Alice no País das Maravilhas. Na medida em que vamos recordando dos tempos que tínhamos mais mobilidade, liberdade de deslocamento e de interação social, passamos a não só idealizar o passado como criar lembranças de coisas que nunca aconteceram - em troca de sentir o prazer de ter boas memórias.
Não é nenhuma novidade usar o passado como referência: a moda tá aí para nos ensinar como o que já foi pode ser revisitado e reinterpretado. O risco, na verdade, reside em aceitar, também, atitudes e comportamentos retrógrados, em nome de uma falsa simetria entre estabilidade e garantia de que “antes, tudo era melhor".
Nesta edição trazemos um novo olhar sobre o passado, principalmente sobre como as pessoas tem lidado com a saudade de outros tempos, e como as marcas tem reagido a todo este saudosismo. O passado não pode - e nem deve - ser esquecido: precisamos usá-lo para lidar não só com o presente mas para viver no futuro.
Para ler com calma
Links bons demais para serem lidos rapidamente.
O pretérito parece perfeito.
The Office e Os Sopranos foram as séries mais assistidas…de 2020! Os especialistas explicam que a procura por séries antigas aumentou por conta do cansaço do consumidor em tempos pandêmicos, sobretudo pela carga emocional resultante da tomada de decisão além do normal. Por isso, na hora de escolher o que assistir, eles optaram menos por “plot twist” desconhecidos e mais por histórias que estivessem familiarizados. Estes dados são dos EUA e do Reino Unido, mas o Brasil não ficou para trás na tendência: a novela mais assistida no Globoplay em 2020 foi Tieta de 1989.
Será que o futuro vai repetir o passado?
Comprovando a máxima de que os movimentos culturais acontecem em espasmos cíclicos de tendência e contra-tendência, os jovens da Geração Z (18 e vinte e poucos anos) estão mais interessados em estabilidade do que a geração anterior. Prova disto é que 80% deles tem interesse em adquirir imóvel próprio.
Outra contra-tendência dos mais jovens em relação a geração anterior, é a pré-disposição a terem filhos mais cedo. Segundo esta pesquisa sobre parentalidade, 71% deles acredita que é possível aproveitar a juventude e ter filhos ao mesmo tempo. Eles revelam também a intenção de aplicar um estilo de criação baseado na confiança, diálogo e proteção da saúde mental dos pequenos.
Quem é de verdade sabe quem é de mentira.
Ainda falando sobre gerações, você sabia que a GenZ é o grupo etário que mais segue influenciadores nas redes sociais? Segundo a WARC, eles seguem menos perfis de marcas do que as gerações anteriores e acreditam que os micro-influenciadores são mais relevantes e confiáveis.
E, no embalo deste comportamento, surge um novo perfil de influenciadores que já são chamados de Genuinfluencers - que vem de “genuíno”. Segundo a WGSN, consultoria que cunhou o termo, esse novo tipo de creator está mais interessado em espalhar ideias do que vender produtos ou promover marcas, e também possui maior foco em conteúdo do que no like. Será este o começo do fim deste mercado?
TikTrampos
Por outro lado, o TikTok vem aí com uma novidade bastante comercial: a possibilidade de usuários se candidatarem a vagas. A ideia do TikTok Resumes - como a ferramenta se chamará - vai contar com um vídeo curto de apresentação dos interessados e visa atrair os mais jovens que ainda tem uma presença pouco expressiva em redes sociais profissionais como o Linkedin.
Já vimos uma reclamação em tom de piada rolando por aí de que esta será mais uma plataforma pra os candidatos ficarem sem resposta do RH no processo seletivo.
Alerta de retrocesso.
Sabemos que as conquistas sociais são lentas, mas que as perdas podem ser bem rápidas: neste artigo podemos entender como, já no começo de 2020, alguns estudiosos chamaram a atenção para alguns retrocessos que teríamos que lidar. Entre os mais preocupantes, a queda da participação feminina no ambiente de trabalho, o maior uso de automóveis por conta das aglomerações no transporte público e do aumento do uso de plástico com as tele-entregas.
Na área econômica a inflação também começa assustar, relembrando os brasileiros de um dos mais assustadores fantasmas de seu passado. O mais rápido reflexo da alta nos preços é a insegurança alimentar. Além de comer menos proteínas o brasileiro deve passar a consumir alimentos mais processados.
A vida não é o que a gente viveu, e sim a que a gente recorda.
Você já parou para pensar que às vezes fazemos coisas com o único objetivo de produzir memórias que pareçam perfeitas? É o caso, por exemplo, do trabalho que os fotógrafos e videomakers realizam em casamentos: tudo é pensado para construir uma memórias de perfeição para o casal no futuro. Existe até uma expressão para definir o fenômeno: nostalgia antecipatória.
Quer ser mais produtivo? Separe um tempo para fazer nada.
Jeff Bezos tem um horário reservado em sua agenda para não fazer nada. Isso mesmo: um dos homens mais ricos do mundo escreveu em seu recente livro Invent & Wander: The Collected Writings que seu horário preferido para fazer nada é pela manhã, depois de acordar, ler o jornal e tomar café junto com os filhos, antes deles irem para a escola. Segundo ele há três benefícios de se impor - e respeitar - esse tempo livre: cria limites para si e para os outros em relação ao seu tempo, aumenta a margem de tempo disponível para atividades imprevistas e leva a melhores decisões com a mente mais tranquila.
Se até o Bezos é adepto do ócio criativo, quem somos nós para bancar os workaholics, não é mesmo? Na China, por exemplo, a geração Millennial tem contrariado as expectativas e optado por desacelerar. O movimento tang ping- em mandarim, deitar - ganhou força e já tem preocupado o governo e as empresas locais, pois tem estimulado que jovens e adultos abandonem valores como competitividade e acumulo de capital, em troca de uma boa noite de sono e de metas reais.
Olha esse dado
Números que chamaram a nossa atenção neste mês
83%
foi o crescimento das vendas de livros digitais em 2020. Se levarmos em conta o gênero literário, ficção teve a maior alta, com 134%. Porém, em relação ao faturamento, o setor cresceu apenas 36%: as políticas agressivas de desconto para atrair leitores é apontada, por especialistas, como a principal causa.
65%
dos brasileiros entrevistados estavam acompanhando ou já tinham visto alguma reprise em 2020, de acordo com estudo publicado pela USP. Ainda, 52% dos participantes da pesquisa estavam vendo a reprise pela primeira vez; 29% não haviam visto a telenovela quando foi veiculada originalmente e 19% já tinham visto a primeira reprise exibida pelo canal.
64%
dos consumidores preferem marcas com presença física e digital, de acordo com estudo global da Wunderman Thompson com mais de 28 mil participantes do mundo todo. Engana-se quem credite o resultado aos mais velhos: 63% dos jovens entre 16 e 24 anos clamam por lojas físicas e online, contra 48% dos acima de 55 anos.
-27,4%
foi a redução do salário das mulheres gaúchas em 2020. Essa é a maior diferença já registrada desde que o estudo do Departamento de Economia e Estatística do estado passou a medir este e outros indicadores sobre promoção da igualdade de gênero. A principal causa foi a pandemia, que afetou a força de trabalho feminina sobretudo a partir do segundo trimestre do ano passado, quando muitas precisaram voltar para o posto de donas de casa para cuidar dos filhos e idosos.
16%
dos executivos e executivas de marketing querem retornar para o escritório. A pesquisa da plataforma We Are Rosie descobriu que esse grupo está bem isolado: nenhum dos profissionais consultados consideram aceitar um trabalho que não ofereça a opção remota. Outros resultados apontados pelo estudo foram que 63% planeja trocar de empregou ou de carreira no próximo ano, e 40% demandam por horários mais flexíveis como pré-requisito ao se candidatarem em uma vaga.
20.000.000
playlists do Spotify possuem alguma música das Spice Girls. Em comemoração aos aos 25 anos do lançamento de Wannabe, celebrados no último mês, a gigante do streaming preparou uma matéria para contar o impacto que o grupo feminino ainda exerce no mundo, mesmo entre as gerações mais novas.
51,5%
é a porcentagem de gamers brasileiras, de acordo com a oitava edição da Pesquisa Game Brasil 2021. Nessa reportagem da Exame você encontra mais dados sobre o perfil brasileiro, inclusive, que 72% joga algum tipo de jogo digital. Outro dado que chama atenção são as marcas mais lembradas e consumidas por esse público: Coca-Cola (82,9%), iFood (81%), Uber (79,3%), Mastercard (73,3) e O Boticário (72,5%). Isso mesmo, nenhuma marca vinculada diretamente ao universo gamer.
23,6%
foi o aumento dos gastos com publicidade global, novo pico para um segundo trimestre em anos e o aumento mais forte em mais de uma década. No ano passado, a mídia offline teve uma retração de um quinto, pior marca em 40 anos, enquanto a mídia online teve um crescimento de 9,4%, impulsionada pelo e-commerce (+ 27,4%), pela mídia social (+ 18,3%) e pelo vídeo online (+ 15,9%).
43%
foi o aumento nas buscas do Google pelo termo “terapia” no último ano, segundo dados do Think With Google.
Olha esse termo
Marketeiros amam um neologismo: nós não somos diferentes.
Anemoia
Na tentativa de descrever nossas angústias mesmo quando falta vocabulário, o artista norte-americano John Koening cunhou o termo anemoia para a nostalgia de um tempo em que nunca se viveu.
Ela passou a ser mais discutida durante a pandemia, sobretudo entre os mais jovens, justamente pela idealização de um passado que muitos não puderam viver, dado todas as medidas restritivas de contato. Os meios de massa de comunicação, como séries, filmes, músicas, além da moda, óbvio, aproveitam esse interesse por este passado não vivido para [re]lançar alguns artefatos antigos, como o Tamagotchi em formato Smart Watch: o Tamagotchi Smart.
Olha essa ferramenta
Às vezes a gente precisa de uma mãozinha: aqui vão algumas.
Internet Archive: lembra como era o Google em 2002? Essa e outras imagens do passado você encontra nesse site, que reúne vários arquivos e layouts antigos.
I Miss My Bar: simula o ambiente sonoro de um bar. Pode colocar a música ambiente, o barulho da galera conversando, do bartender preparando o drink, do movimento da rua, até de chuva! Tudo para quem morre de saudade do combo aglomeração + álcool.
Jitter: cria layouts dinâmicos, simula tweets ou interface em dispositivos. Ela é tão incrível que ainda estamos explorando tudo o que ela faz - e o melhor, de graça!
Brand Style Guides: quer ver como é o manual de identidade de outras marcas para te inspirar? Neste link tem o MIV e Brand Book completinho de diversas marcas.
Giggle - trocadilho direto com Google além de significar risadinha, em inglês - oferece 10 categorias de pedidos (poesia, riffs de guitarra, piadas, biscoitos da sorte e muito mais), nas quais você envia um e-mail e recebe um único resultado entregue em um dia útil.
Olha este livro
Um especial de clássicos do branding para combinar com a temática da news ;)
“Como construir marcas líderes” de David Aaker: a base teórica mais parruda sobre gestão de marcas é um clássico que todo profissional de marketing precisa conhecer.
“Posicionamento” de Al Ries e Jack Trout: apesar de acharmos que o livro já está bastante ultrapassado em seus conceitos, ele fornece a estrutura básica para entender como posicionar uma marca.
“Como as marcas crescem” de Byron Sharp: através de uma pesquisa ultra-bem fundamentada, o autor explica a lógica por trás do crescimento de uma marca. O livro, que se tornou uma bíblia para estrategistas no mundo todo, está esgotado no Brasil com exemplares sendo vendidos a preço de ouro nos sebos.
E, para quem já zerou os clássicos antigos e quer algumas dicas mais fresquinhas sobre o tema, recomendamos: Propósito e WikiBrands em português e também os gringos How Not to Plan, The Brand Flip e o recém lançado em versão kindle Building Distinctive Brand Assets.
Aqui na Cordão
Um pouco mais sobre o que estamos fazendo.
Formando estrategistas
Este mês vai ter muito da Cordão na Formação de Estratégia do Clube Share que conta com a nossa curadoria e entusiasmo. Hoje mesmo, dia 02/08, vai ter mais uma aula com a Daniele Lazzarotto. Esta aula será sobre o novo papel do propósito e a Dani vai apresentar aprendizados do estudo exclusivo que fizemos aqui na Cordão no ano passado, além de exemplos de projetos com nossos clientes. E no dia 30/08 vai ter a primeira aula do Matheus Conci, falando mais sobre antropologia do consumo e porque esse assunto interessa para estrategistas. As aulas são exclusivas para os membros do Clube. Pra quem já é do Clube vale a pena conferir - e para quem ainda não é vale a pena assinar!
Viralizamos! E vai ter live.
No mês passado a Dani Lazzarotto, nossa diretora, escreveu este texto explicando de que forma algumas escolhas da geração Millennial acabaram trazendo consequências negativas para suas vidas. O texto foi o mais lidos do Update or Die e chegou a ter mais de 130 mil leituras. No próximo dia 05/08 vai rolar uma live com representantes de das gerações Z, Y, X e Baby Boomer no canal Manual do Tempo.
Nos vemos em 15 dias?
Também estamos empolgados com o pequeno sucesso que a nossa news vem fazendo. Tanto que queremos testar a possibilidade de torná-la quinzenal. Então, espere a próxima edição chegar mais rápido e nos conte o que você achou da novidade.
Rolando neste mês
Cursos, eventos e oportunidades do mercado pra você acompanhar
The Future of E-Commerce - Edição Enterprise: 24 e 25/08
Digitaltalks Expo 2021: 30/08, 31/08, 01/09 e 02/09
Women To Watch: 31/08