Você pode ser daquelas pessoas que ignora o Oscar, que não dá bola para os filmes indicados, mas com certeza você vai entender um pouco mais do zeigeist de comportamento se olhar para as produções sem fixar muito nos números de bilheteria. A cerimônia ainda é uma das mais importantes e que mais atrai público e discussão, seja para cobrar mais presença de diversidade entre as listas de indicações, seja para coroar produções que tem a preferência do público mais mainstream.
A Nós da Cordão trás um olhar de branding sobre os filmes, os membros e até a cerimônia, mostrando como decisões do nosso dia como estrategistas muito tem relação com as estratégias empregadas pelos estúdios. E também, porque não, te ajudamos a completar a lista de filmes para não fazer feio no bolão na noite do próximo dia 12 de março.
A métrica da bilheteria não fecha [mais]
Os recentes fracassos de bilheterias de produções de diretores consagrados levantaram uma bandeira vermelha na cabeça dos estúdios. E, apesar de muitas hipóteses, se olharmos para o que realmente se destacou nos últimos meses foram as produções mais leves e divertidas.
O público pode estar querendo um escapismo seguro, o mesmo que enfrentou durante o início da pandemia. Sem querer grandes surpresas, e garantir a diversão, recorre a trabalhos que já conhecem o caminho: as duas maiores bilheterias de 2022 são, justamente, de duas franquias de sucesso, Top Gun e Jurassic World.
E para 2023 os ventos parecem direcionar para um aprofundamento não só deste escapismo, como do entretenimento do absurdo: os filmes mais aguardados são Barbie, da boneca mais famosa do mundo, e Wonka, sobre os primeiros anos do excêntrico dono de uma famosa fábrica de chocolates.
A arquitetura de marca do cinema
Em uma temporada de crises financeiras e bilheterias baixas, o cinema também acaba aproveitando para desmembrar produções que são sucesso de público - e bem, crítica talvez nem importe tanto aqui.
Por isso, a arquitetura de marca que tem dominado os estúdios é a da submarcas. Veja o exemplo de Glass Onion - A Knives Out Mystery: o desejo do diretor de transformar a nova aventura do excêntrico detetive vivido por Daniel Craig em uma produção quase independente não foi concretizada, com a adição de última hora ao nome da veiculação com a sua primeira aventura.
Isso quer dizer que agora toda estratégia de submarca é regra? Não mesmo. A estratégia monolítica - aquela que quase esconde a associação das produções entre si - pode ser vista no grande sucesso de X-A Marca da Morte, Pearls e Maxxxime, resultado de um viral digital que influencia a decisão da arquitetura.
O futuro das legendas
Apesar de parecer coisa da GenZ, as legendas estão garantindo seu lugar ao sol na sétima arte. São eles que mais utilizam o recurso, 70%, e por dois motivos bastante nobres: elas permitem explorar produções de outras culturas que não a sua, e elas são mais acessíveis para quem tem perda auditiva em algum nível.
Mas, por outro lado, temos um ponto bastante curioso: as pessoas tem escolhido usar legendas mesmo que em produções da sua língua nativa, porque não estão conseguindo entender o que os personagens falam. Esse problema, pode ser uma escolha do próprio diretor - acredite se quiser - ou da sua equipe de produção, que tem recursos avançados de captação de áudio mas que não conseguem reproduzir para a experiência de TV com a mesma fidedignidade.
E o futuro sem legendas
A inteligência artificial tem mostrado a que veio também para o cinema, e está mais próxima de começar a revolução com a opção de dispensar as legendas e produzir uma experiência totalmente nova com a dublagem que estamos acostumados. Dá uma olhada nesse vídeo e tirem suas próprias conclusões:
Muito legal, mas residem no mínimo duas discussões muito importantes sobre esse tema. Primeiro, o mercado de dublagem luta por reconhecimento a cada ano, e pode estar ainda mais comprometido com essa nova ferramenta. Outro aspecto importante é ético: até que ponto mexer na voz e nas expressões de pessoas reais pode ser legalmente aceito?
24
número de nomeações que o estúdio independente A24 recebeu no Oscar 2023, desbancando a gigante do streaming Netflix, 14, e até a onipotente Disney, com 10. O estúdio é conhecido por apostar em poucas produções e dedicar seu pouco orçamento em reinvestimentos de produção e não de campanhas para festivais.
11
dessas 24 são para Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, produção que já configura nas casas de apostas como uma das favoritas a levar a estatueta mais disputada da noite, a de Melhor Filme. O filme lançado em 2022 nos cinemas brasileiros vai voltar a ser exibido na tela grande por aqui à partir de 2 de fevereiro.
4
atores e atrizes asiáticos estão entre os indicados nas quatro categorias de atuação deste ano. É o maior número já registrado, inclusive, na categoria Melhor Atriz em que Michelle Yeoh é a primeira autodeclarada asiática a concorrer, já que em 1936 Merle Oberon escondeu sua origem indiana por receio de xenofobia.
14
número de indicações que a compositora Diane Warren computou com mais uma menção ao prêmio de Melhor Canção, em 2023. O problema é que ela nunca ganhou, e esse ano ela também não é nem a favorita. Ao menos levou um Oscar Honorário em novembro passado.
23
a Academia voltou atrás e vai transmitir ao vivo todas as categorias neste ano. Para quem não se lembra, oito categorias tinham sido cortadas com a justificativa de tornar a cerimônia mais atraente - só que apenas aumentou a indignação dos membros e do público, em geral.