Se você chegou em janeiro de 2024 sem saber o que é Ozempic, certamente você é do tipo que nunca pensou em fazer uma dieta na vida. Mas, para o resto de nós mortais lutando contra a balança, a semaglutida (principio ativo do Ozempic) tornou-se objeto de desejo ou, no mínimo, de curiosidade. Trata-se de um medicamento injetável, em formato de caneta - que apesar de ter sido criado para controlar a diabetes - hoje é considerado o mais seguro e eficaz para perda de peso.
Recomendado à torto e direito por médicos, nutricionistas, personal trainers e celebridades em geral, a canetinha logo se tornou febre no mundo todo, sendo usado não somente por pacientes com algum grau de obesidade mas por qualquer pessoa que gostaria de ter uma silhueta um pouco mais fina. A previsão dos especialistas é que 7% da população esteja usando um medicamento para perda de peso nos próximos 10 anos, um mercado de 560 milhões de pessoas.
Esta adesão em massa está começando a ter impactos inesperados em indústrias que nada tem a ver com a perda de peso. Tanto que o professor Scott Galloway da NYU, que é respeitadíssimo por fazer análises de mercado certeiras, afirmou que o Ozempic seria a tecnologia com maior impacto no mercado em 2024.
E, se Galloway fala, a gente acredita. Por isso, nesta edição da news, fomos entender, afinal, o que é este tal de efeito Ozempic? E o que as marcas precisam saber pra se preparar para ele? Bora descobrir!
A volta da magreza no mundo fashion
O movimento body-positive surgido na última década fez parecer que a indústria da moda estava deixando a ditadura da magreza no passado, junto com as pochetes e calças de cintura baixa. Mas, como sabemos, tudo na moda é cíclico e todas essas as coisas voltaram com força para as passarelas. Nas Fashion Weeks deste ano, os modelos maiores estiveram visivelmente ausentes – uma mudança acentuada em relação aos anos anteriores, quando os designers incluíram deliberadamente tamanhos mais diversos.
Em um artigo publicado na Maire Claire, a jornalista Juliana Picanço faz um bom resumo destas voltas que a moda dá e questiona se estamos voltando ao traumático padrão dos anos 90.
Fato é que as canetinhas tem grande responsabilidade por este retorno da magreza à moda. Afinal, trata-se de um remédio caro (portanto, exclusivo) e que permite perder peso de forma rápida e - razoavelmente - fácil. Fazendo com que o corpo esguio recuperasse seu status como mais alto símbolo de luxo, como explica este excelente artigo da Zine sobre os impactos sociais da semaglutida. O resultado? Marcas de luxo reduziram suas linhas plus size e a Vogue não apresenta um corpo grande na capa há três anos. Que triste, né?
Tik tok, adolescentes e Ozempic
E, em meio a tanta popularidade, muitos pais tem se confrontado com o dilema: oferecer ou não o Ozempic como opção de emagrecimento para crianças e adolescentes? A opinião médica é bem divida. Enquanto a Academia Americana de Pediatria recomenda a cirurgia bariátrica e medicação o mais cedo possível, outras organizações alertam para os riscos de distúrbios alimentares e desconhecimento sobre os efeitos do medicamento em longo prazo.
Este artigo do The Cut traz ainda uma percepção controversa: o benefício social e psicológico de viver uma infância ou adolescência com um corpo dentro dos padrões também deve ser considerado nesta equação.
Fato é que os jovens estão usando - e muito. No TikTok rola inclusive um desafio com a hashtag #OzempicChallenge, em que as pessoas mostram o quanto emagreceram após seu uso.
Efeitos colaterais no mercado
O uso do Ozempic em massa também causou uma série de efeitos adversos no mundo dos negócios. A indústria de alimentos foi a primeira a sentir o impacto. O CEO do Walmart afirmou que a empresa já percebeu que quem toma Ozempic gasta menos com alimentos. O mercado reagiu a esta informação e o índice de ações de alimentos, bebidas e tabaco no Stoxx 600 desceu ao menor patamar em dois anos e meio.
Já, para as companhias aéreas a perspectiva foi otimista. O peso dos passageiros e bagagens é uma grande preocupação porque, quanto mais um avião pesa, mais combustível ele consome. A United Airlines afirmou que economizaria US$ 80 milhões por ano se o peso médio dos passageiros diminuísse módicos 5 quilos.
Há quem preveja ainda um crescimento nos apps de namoro ou um novo “baby-boom”, pelo fato de termos mais pessoas confiantes com seus corpos para entrar em relacionamentos amorosos. Além de um fortalecimento ainda maior da indústria de esportes.
Em busca do par perfeito
Agora, a grande corrida da indústria de alimentos é por encontrar o par perfeito para o Ozempic, algo para consumir em “combo”, como já acontece com burger e fritas, por exemplo. Me deixe explicar: com uma perda de peso muito rápida, os pacientes com uso da semaglutida tendem a perder muita massa muscular no processo. Para reduzir esse efeito indesejado eles precisam aumentar a ingestão de proteínas - o que não é fácil sob o efeito deste inibidor de apetite. Logo, a indústria de alimentos quer criar uma par proteico palatável para se tornar o queridinho dos usuários.
A Nestlé está trabalhando em produtos complementares, como shakes e barras que suplementariam vitaminas e minerais e reduziriam a perda de massa magra. E até a General Mills está brincando com produtos ricos em proteínas para acompanhar os novos medicamentos. Restaurantes também estão adaptando cardápios, com porções reduzidas e proteicas. Será que o seu negócio também precisa se adaptar?
Quem tem medo do rosto de Ozempic?
Quando perdemos muito peso, muito rápido, podemos emagrecer também nos "lugares errados", como nas bochechas, seios ou glúteos. O que acontece com muita frequência com os usuários da canetinha mágica. Tanto que as expressões “ozempic face” (pra designar o rosto com perda de gordura nas bochechas) e “ozempic skin” (pra designar a flacidez geral de pele) se tornaram populares nos consultórios dermatológicos. Como vemos neste artigo, o verdadeiro par perfeito do ozempic tem sido o ácido hialurônico, usando para preencher o rosto e recuperar a aparência mais jovem.
Ozempic pra vida toda
A gente sabe que todo mundo exagerou nas festas de final de ano e agora quer dar aquele up na dieta. Mas, antes de sair buscando a canetinha mais próxima, vale se atentar para os riscos que expõe esta matéria da SuperInteressante: assim como outros medicamentos, os pacientes que fazem uso do Ozempic voltam a engordar quando param o tratamento. Ou seja: tem que tomar pra vida toda. E essa droga tem uma relação mal resolvida com o perigo de câncer.
Então, crianças, pensem bem antes de se jogar nas tentações medicamentosas. Reeducação alimentar e uma boa rotina de exercícios continuam sendo o melhor remédio pra manter a saúde - e o corpitcho - em dia.
Mais sobre isso:
Nós da Cordão #50: A beleza na era dos filtros.
US$ 400 bilhões
é o valor de mercado da Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e do Wegovy, ambos medicamentos a base de semaglutida, segundo a CNBC. Um faturamento tão grande que impactou inclusive o PIB da Dinamarca, país sede da farmacêutica.
52%
foi a valorização da Novo Nordisk na bolsa em 2023, tornando-se a empresa europeia mais valiosa na bolsa, desbancando o grupo de luxo francês LVMH. Dados da Uol.
R$ 3,7 bilhões
foi a receita da Novo Nordisk com a venda de semaglutida no Brasil em 2023, um crescimento de 52% sobre o ano anterior, segundo dados da NK Consultores.
60%
dos brasileiros está acima do peso, com prevalência maior de excesso de peso no sexo feminino (58,2 %), que no sexo masculino (55,6%). segundo o IBGE.
91%
foi o crescimento nas buscas pelo Ozempic no Brasil em 2023, segundo o site Consulta Remédios.
Eu usei por um período mas acho que fui sorteado e não funcionou comigo. Não se foi por causa disso, mas eu fico desconfiado com os desdobramentos dessa febre toda.