A beleza na era dos filtros 🥽 #50
Possibilidades de ser são muitas, mas será que isso tem limite?
É que Narciso acha feio o que não é espelho, diz Caetano Veloso na letra de Sampa. O que o compositor não esperava é que o espelho poderia virar um filtro. E de meros admiradores passivos desse nosso reflexo, vimos a inteligência artificial contribuir para exacerbar nossa procura pela imagem perfeita.
Por isso, trazemos uma Nós da Cordão com vários insights sobre o espirito de nosso tempo: nos tornamos ainda mais vigilantes a respeito da nossa aparência ou as mídias sociais tem ajudado a valorizar e nos fazer aceitar nossas imperfeições? É o que você confere, a seguir.
Admirável imagem imperfeita
Você já deve ter visto ou lembra do efeito olho de peixe, aquele que surge principalmente quando encontramos um espelho convexo em algum estacionamento. Pois saiba que essa estética é a nova trend entre os jovens da GenZ.
Abrindo mão da perfeição, ou mesmo da vida sem filtro, a ideia aqui é mostrar a distorção como algo belo. A estética já aparece na cultura pop: o comentado e aclamado show da cantora espanhola Rosalia ou na capa do álbum de Harry Styles, o mais recente campeão do prêmio Álbum do Ano do Grammy [veja mais no vídeo abaixo].
Essa estética vem se somar a outra, também conhecida pelas suas imperfeições: Snapshot Aesthetic. A estética instantânea capta imagens geralmente tremidas, sem foco ou justapostas para valorizar a realidade e a espontaneidade dos momentos.
A beleza tem gênero e idade?
Um estudo recente da McKinsey revelou que 40% da GenZ tem predileção por produtos neutros em relação ao gênero, contra 30% das demais. É um salto interessante e reforça, segundo os dados da mesma pesquisa, a escolha por marcas autênticas como as de Selena Gomes e Rihanna, que vão além dos produtos e se engajam em causas de inclusão e aceitação.
Se por um lado o gênero vem sendo amplamente discutido, o mesmo não pode ser dito sobre o etarismo: o preconceito com pessoas por causa da sua idade. Ele ainda é uma realidade e aparece nos filtros do TikTok. A última foi o Teenage Look, que permitiu aos usuários se verem mais jovens e que, em muitos casos, se assemelhavam com suas versões adolescentes reais.
Por mais divertido que seja, o caso suscitou uma enxurrada de comentários maliciosos, e escancarou o fato de que, até mesmo os mais jovens, acreditam que alguém de 30 anos é “velha" na internet. O marketing antienvelhecimento é um dos principais causadores dessa distorção que, segundo especialistas, pode ser superada com mais exposição de pessoas assumindo a sua idade.
Deepfake descomplicada
Não é novidade que a reprodução de voz e face de celebridades anda solta na internet. Como já falamos, se até pouco tempo nos divertíamos com vídeos de contas como do Bruno Sartori, já estamos vendo com certa preocupação uma onda de vídeos forjados por ai, como mostra essa reportagem.
Mas ninguém precisa de um super app ou um conhecimento avançado em tecnologia para se passar por outra pessoa. Veja só o que aconteceu na China: alguns casos tem chamado atenção e superinfluenciadores estão sendo desmascarados por conta de falhas nos filtros. Olha esse vídeo, um exemplo real do que pode acontecer:
Como regular o uso de filtros?
A esta altura todos nós já percebemos que usar filtros nos deixa com uma percepção distorcida de nossa própria imagem. O fenômeno é chamado de Dismorfia dos filtros (ou Snapchat Dysmorphia em inglês).
Seu impacto na auto-estima e saúde mental é tão real que muitos países estão querendo banir ou regular o uso de filtros. Países como Noruega e França já tem leis aprovadas que exigem que as plataformas sinalizem o uso de qualquer filtro em fotos e até vídeos.
O caso francês é um exemplo de alta regulação: além da sinalização, ele proíbe promoção de procedimentos estéticos e exige o alerta de imagens produzidas por inteligência artificial. O descumprimento pode gerar multas que chegam a até R$ 1,6 milhão e 2 anos de prisão.
A discussão anda a passos largos do outro lado do oceano pois é de lá que vem algumas das pesquisas mais interessantes sobre o uso danoso dos filtros para a nossa percepção do que é real e do que é idealizado. Um estudo britânico, por exemplo, mostrou como crianças já idealizam com tristeza sua imagem real e associam o uso de filtros a uma forma de superarem esse “desafio". Triste, né?
Mais sobre beleza na era dos filtros:
Nós da Cordão #14: Meta para 2022: sua saúde mental
Nós da Cordão #27: Existe fake do bem?
Nós da Cordão #30: Marcas inclusivas
940 milhões
de visualizações na hashtag #boldglamour, filtro que afina nariz , aumenta a boca, diminui as bochechas, arqueia a sobrancelha e altera o formato dos olhos. O filtro, aplicado por inteligência artificial, inaugura uma era de filtros hiper-realistas.
52%
dos participantes de uma pesquisa afirmam terem assistido conteúdo de um VTuber - um youtuber criado por inteligência artificial - nos últimos 12 meses, segundo relatório de cultura e tendências do Youtube 2023.
41%
dos jovens da Genz ainda consideram lojas físicas na hora de comprar produtos de beleza, principalmente para testar e averiguar como eles ficam em sua pele ou seu corpo.
US$ 13,34B
tamanho do mercado global de Inteligência Artificial (IA) em Beleza e Cosméticos que deve atingir em 2030. Os principais avanços envolvem tecnologias de precisão de teste online de produtos.
2/3
compradores da Geração Z planejam comprar produtos para a pele ou beleza que protegem contra condições climáticas extremas e sol. Um dos principais impulsionadores dessa compra é o aumento da poluição do ar e incidência dos raios ultravioleta.
72%
de cirurgiões plásticos afirmaram ter atendido pacientes que buscavam procedimentos que melhorassem suas selfies, em 2019. Esse foi um aumento de 15% em relação ao ano anterior.
85%
dos procedimentos cirúrgicos e não cirúrgicos realizados em 2019, foram feitos em mulheres, contra apenas 15% em homens.
13,1%
dos brasileiros fizeram alguma cirurgia estética em 2019. Este percentual nos coloca na liderança, como o país que mais faz procedimentos estéticos do mundo.