Após dois episódios de enchentes severas em menos de um ano, a maioria dos gaúchos está se perguntando: será que vamos conviver com catástrofes climáticas acontecendo o tempo todo? A má notícia é que talvez sim.
Além das recentes inundações aqui no sul, outras regiões do país tem sofrido com a subida da temperatura e níveis do oceano, calor extremo, secas ou incêndios florestais. O Brasil - que sempre se sentiu protegido da ira da natureza e observava de longe os tornados, terremotos, incêndios e tsunamis provocarem dor e destruição ao redor do mundo - hoje começa a perceber que a crise é global e que ninguém está protegido.
E, como não há nada mais impactante do que sentir na pele os efeitos daquilo que só conhecemos em teoria, a sustentabilidade e o clima se tornam pauta inadiável. Afinal, o que podemos fazer para evitar a próxima catástrofe climática?
Já ouviu falar sobre resiliência climática?
Os cientistas afirmam que as mudanças climáticas já são inevitáveis e irreversíveis. Isso significa que eventos climáticos extremos serão cada vez mais comuns em todo o mundo. Assim, só nos resta buscar alternativas para conviver e minimizar o impacto destes fenômenos. Por isso, muito tem se falado em Resiliência Climática - que significa um conjunto de iniciativas que permitem a adaptação, nos sistemas naturais ou criados pelos homens, em resposta à mudança do clima.
Um exemplo disso é o projeto do governo de Tóquio que construiu um reservatório subterrâneo de 6,3 quilômetros de extensão que protege o norte da cidade contra inundações. Já, nos EUA, cidades como Buffalo, Cincinnati, Detroit e Baltimore, naturalmente mais protegidas de eventos extremos, buscam atrair novos moradores e investimentos vendendo este conceito de resiliência ao clima.
Outra forma de criar resiliência vem da China, que tem 60% de suas grandes cidades suscetíveis a inundações. Por lá, eles estão implementando o conceito de “cidades esponja” explicado no vídeo abaixo. A ideia é investir em projetos urbanos mais naturais que dão espaço à água e criam condições para que ela possa ser absorvida de volta pela terra, em vez de fluir para canais, canos ou ruas.
O conceito de resiliência climática também pode ser aplicado aos negócios e marcas, como explica o Fabiano Goldoni neste artigo. Ele explica que as empresas que não preparadas para eventos climáticos extremos enfrentam sérios riscos e sugere um passo a passo para estabelecer uma estratégia de resiliência climática.
Resiliência é o novo luxo
Mas, além de ser tema importantíssimo para o projeto urbano, a resiliência também é uma pauta social. Chuvas, cheias e deslizamentos, não afetam toda a população de forma igual. As áreas de risco normalmente são regiões periféricas, com precárias condições de moradia e saneamento. Por isso, já é sabido que as mudanças climáticas aprofundam a desigualdade social.
A desproporção em que os mais pobres são atingidos fica mais evidente quando vemos que o mercado de resiliência ao clima já movimenta 1,2 trilhões de dólares ao redor do mundo. Nesta soma entram desde a venda dos populares kits de sobrevivência até a construção de bunkers de luxo. Aqui no Brasil, acredita-se que já existam 63 bunkers em funcionamento, sendo 53 deles em SP.
Já, no mercado imobiliário, geradores de energia, captação de água da chuva, eficiência térmica e outros sistemas de resiliência estão se tornando os ítens mais desejados em prédios de luxo.
Os gastos da desgraça
Longe de ser algo a ser vivido pelas futuras gerações, os efeitos do aquecimento global já estão sendo sentidos hoje. Segundo estudo do Datafolha, 94% dos brasileiros sentiu que sua cidade passou por alguma situação climática extrema recentemente. Esta vivência desperta a ansiedade climática - que é o medo crônico de sofrer cataclisma ambiental. Mais da metade dos jovens ouvidos pela Unicef experimentam esta preocupação.
Mas, essa não é a única fonte de ansiedade nos afligindo. Somado a ela, traumas como a recente pandemia, o crescimento dos conflitos armados e alertas sobre os riscos de explosões solares ajudam a fortalecer a narrativa de que o fim da humanidade pode estar próximo.
Uma das consequências inesperadas disto é que os mais jovens estão se preocupando menos com o futuro e gastando todo seu dinheiro realizando desejos de consumo. Afinal, se o mundo vai acabar em breve, porque não viver intensamente o agora?
Desta forma, além do “gasto de vingança” que vimos acontecer ao final da pandemia, agora vemos os gastos da desgraça, ou “doom spending", que é gastar apesar das preocupações com a economia e os assuntos externos extremos como forma de lidar com o estresse. Com mais intensidade, este fenômeno atinge os jovens e - adivinha? - as mulheres.
Chega de “greenwashing”
Greenwashing é uma expressão que significa “lavagem verde” e é usada para descrever os casos nos quais as empresas criam uma falsa aparência de sustentabilidade, sem necessariamente aplicá-la na prática.
Para forçar uma atitude mais efetiva da iniciativa privada, a União Europeia aprovou uma lei anti-greenwashing que obriga corporações a comunicarem com precisão os impactos ambientais de seus produtos e proíbe o uso de selos, logos e comunicados que tratem a sustentabilidade sem haver comprovação de órgãos fiscalizadores.
Uma recente pesquisa da Bain Company mostrou que comunicar práticas ESG está diretamente relacionada com crescimento no negócio, sendo um elemento de diferenciação das marcas. Por outro lado, estudos também demonstram que a credibilidade destas afirmações está comprometida. Somente um quinto
dos consumidores acredita nas promessas de sustentabilidade feita pelas marcas, segundo pesquisa da consultoria Wolff Olins.
Conheça os desinfluenciadores
A desinfluência é uma tendência emergente na qual criadores de conteúdo desencorajam o consumo. Nos últimos meses, a #deinfluencing viralizou no TikTok, e conta hoje com mais de 250 milhões de postagens.
Apesar de existirem muitos motivos para desencorajar a compra de produtos, incluindo a recomendação de alternativas mais baratas, a consciência ambiental é uma das principais bandeiras deste grupo. Por isso, dentro desta lista de desinfluencers encontramos uma série de ativistas que usa de seu conteúdo para denunciar práticas de greenwashing e desestimular o consumo de algumas marcas. Entre eles, destacamos o trabalho da Laila Zaid, que não tem papas na língua pra apontar responsáveis.
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216 milhões
de pessoas terão que deixar suas casas devido a eventos climáticos até o ano de 2050, segundo estimativa do Banco Mundial de 2021. Então, lidar com um planeta aquecido e com eventos extremos faz parte do novo cotidiano da humanidade.
4º
posição do Brasil no ranking dos países mais responsáveis pelo aquecimento global, com 5% do total de emissões de carbono. Nas três primeiras posições do ranking temos Estados Unidos, China e Rússia. O dado é de estudo da Carbon Brief que analisou dados de emissão de carbono de 1850 a 2021.
100 bilhões
é o número de garrafas plásticas descartáveis, de uso único, vendidas pela Coca-Cola todos os anos. O número dessas garrafas que termina no lixo é tão grande que a companhia foi nomeada pela ONG Break Free From Plastic como a maior poluidora por plástico do mundo.
85%
dos brasileiros acreditam que os impactos das mudanças climáticas no país serão ainda piores nos próximos 10 anos – sendo que a média global é de 71%. Segundo estudo da Ipsos para a Plataforma Gente.
42%
dos brasileiros afirmam que as empresas que atuam no país usam pautas ambientais sem realmente se comprometer com uma mudança e apenas 18% dizem ver ações concretas com base no que as empresas pregam. Segundo o mesmo estudo da Ipsos.
68%
dos consumidores esperam que as empresas resolvam os problemas de sustentabilidade, segundo pesquisa EY Future Consumer Index.
45%
dos jovens dizem que seu maior medo com relação ao futuro é a mudança climática tornar o planeta inabitável. Os dados são da pesquisa 2031 Future World Report da Dazed Media.
O Rio Grande do Sul vai continuar precisando de ajuda para se recuperar da maior catástrofe climática já registrada no Brasil. Então, busque contribuir como puder, seja doando dinheiro, roupas, trabalhando de forma voluntária, dando visibilidade para a causa, incentivando ações de recuperação do estado, comprando de empresas ou contratando profissionais gaúchos.
O manual colaborativo da ARP (Associação Riograndense de Propaganda) para auxiliar empresas na gestão desta crise segue em atualização neste link.
Nesta planilha, você confere as ações já realizadas pelas 50 maiores empresas do Brasil e aqui o que foi feito pelos 15 maiores influenciadores. O monitoramento está sendo feito pelo Professor Diego Wander Montagner e estudantes do Curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Pra onde doar?
ONG Ascendendo Mentes: PIX: 39.974.512/0001-94
Sicredi: PIX ajuders@sicredi.com.br
Vakinha do Pretinho Básico e Badin: enchentes@vakinha.com.br
Instituto Cultural Floresta: PIX: 27.631.481.0001-90