Vamos combinar que a humanidade está vivendo um momento pra lá de surreal. Afinal, segundo o dicionário de Oxford, surreal é tudo aquilo que denota estranheza, transgressão da razão ou que pertence ao domínio do sonho, da imaginação e do absurdo. Parte disso é culpa da tecnologia que está dissolvendo os limites entre o que é real e o que é fantasioso. A outra parte é culpa de nós, humanos, que estamos buscando experiências cada vez mais excitantes para compensar o tempo em que fomos privados de nosso valioso contato social.
A mistura destas duas coisas se traduz em vivências cada vez mais extraordinárias, que permeiam a estética, o conteúdo e o entretenimento que consumimos na vida real ou digital. A estas vivências nós da Cordão chamamos de “novo surrealismo”.
Nesta edição da news, pescamos um cardume de referências alucinantes que esticam os limites da nossa criatividade. Preparados?
Do Dalí ao Dall-e
Se você ainda não ouviu falar de Dall-E ou Midjourney pare tudo que está fazendo agora e dê um Google. De forma resumida, ambos são programas de inteligência artificial que criam imagens a partir de descrições textuais. Eles podem criar desde imagens realistas (como a imagem de uma bicicleta) até coisas oníricas (como uma alface dirigindo uma bicicleta).
Estas imagens criadas artificialmente muitas vezes reproduzem uma estética digital pra lá de surrealista. Afinal, são imagens produzidas por “alguém” sem nenhuma censura pessoal, ética, estética ou artística, provocando sentimentos perturbadores e extremamente atraentes em nós, humanos. Por isso, estas imagens estão por toda parte, desde os clipes do David Bowie recriados com IA até a trend de reagir às imagens do Midjourney no TikTok.
E já tem marca usando a criatividade artificial em suas campanhas. A Warren, por exemplo, aproveitou o MidJourney para ilustrar os sonhos dos seus clientes em uma campanha que bebe diretamente deste novo surrealismo.
A estética do absurdo
Você já reparou que as referências estéticas dos jovens estão cada vez mais, digamos assim, estranhas? Pois é. Cores vibrantes, formas ousadas e referências surrealistas tomam conta da moda, design e arquitetura.
No report Cultura Jovem 2022, a WGSN cunhou o termo “estética do absurdo", se referindo a um conjunto de novas estéticas que abraçam uma noção mais desinibida de autoexpressão - e nós ficamos obcecados por este conceito. Um bom exemplo disto são os perfis excêntricos de “Get Ready With Me" como o da Lelê Burnier ou as modas hiper-coloridas como a “Barbiecore”, que é explicada em detalhes no TikTok aí embaixo.
Cogumelos mágicos
Neste momento em que o surrealismo está em alta, faz sentido que a busca por substâncias que alteram a consciência também esteja. O uso recreativo de drogas entre jovens vem aumentando e ganhou ainda mais adeptos durante a pandemia. Os dados desta reportagem da Vice chegam a assustar: número de pessoas usando alucinógenos dobrou entre 2015 e 2020.
Esse aumento ocorre em um momento em que os estudos sobre a microdosagem se aprofundam e que as drogas alucinógenas passam a ser prescritas como tratamento para doenças em alguns países. Os jovens relatam que estas substâncias ajudam não só a se divertir, como também a fugir do mundo moderno. O curioso é que enquanto o uso de alucinógenos cresce, o consumo de álcool cai.
A vida eterna agora é digital
Neste pós-pandemia o luto virou um mercado - e dos mais lucrativos. Boa parte das inovações nesta indústria se propõe a trazer nossos entes queridos de volta à vida através de inteligência artificial e realidade virtual, em uma experiência meio mórbida, meio surreal e meio futurista.
Para exemplificar o quão estranho o luto pode ficar, a startup “Somnium Space” criou a funcionalidade “Live Forever” que permite criar nosso próprio avatar imortal que reproduz nossa aparência, nossos movimentos, nosso tom de voz e expressões habituais. Já, as startups Legathum e Lifestory prometem criar um museu virtual para ser consultado por seus parentes e amigos quando você já não estiver mais entre eles. E até a Amazon está testando um recurso que permite que a Alexa imite a voz de seus parentes falecidos.
Ah, para quem gosta de entender a realidade olhando para a ficção, além do tradicional Black Mirror, recomendamos a série Upload na Amazon Prime, que imagina como será a realidade de nossos clones digitais vivendo a vida eterna.
Mais sobre estes temas:
Nós da Cordão #17: Preparados para a criatividade artificial?
Nós da Cordão #27: Existe fake do bem?
Update or die: O novo surrealismo.
8,6%
dos estudantes universitários dos EUA e 7,6% dos jovens adultos disseram ter usado psicodélicos nos últimos 12 meses, em comparação com 4,1% e 4,3% em 2017.
56%
dos estudantes dos EUA relataram uso de álcool em 2020, em comparação com 62% em 2019.
57%
das pessoas com renda baixa que já ouviram falar do metaverso acreditam que ele será elitista, aberto apenas para aqueles que podem acessá-lo.
USD 76,8 bilhões
é o quanto o Mark Zuckerberg já perdeu de sua fortuna nos últimos 12 meses, caindo do 3º para o 11º no ranking Forbes. O principal motivador disto é a queda nas ações da Meta.
1.000%
é quanto anfetaminas fazem disparar a dopamina, segundo experimento com ratos. Outras atividades e substâncias também ajudam nesse processo: chocolate: (+55%), sexo(+100%), nicotina (+150%) e cocaína: (+225%).